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Incoerências do Protestantismo

Imagem de Lutero. Mas... não era proibido fazer imagens?

Tenho visto ultimamente inúmeros casos de conversão, sobretudo de ex-protestantes que, motivados pelo desejo de fazer uma crítica mais fundamentada à Igreja Católica, partem a estudar as suas fontes, e terminam se convertendo. A coisa acontece frequentemente. Pretendo nesse texto explicar um pouco do porquê disso.

Primeiramente, antes de entrar nas razões apologéticas, notemos o seguinte. Quando um católico se "desconverte" e passa ao protestantismo - e também já cansei de ver -, isso ocorre porque, geralmente não dispondo de uma formação lá tão coerente, resultado da atual crise da Igreja que faz com que os padres e bispos não ensinem o que devem ensinar, eles tomam contato com o jogo lógico doutrinal e bíblico que os evangélicos costumam fazer. A mente humana é intuitivamente orientada para a verdade. Assim, o modo de convencer alguém é fazê-lo ter a experiência interna e vivencial da verdade. É muito diferente quando, não somente cremos no que nos dizem de fora, mas também vemos por nós mesmos que aquilo procede. É o que ocorre, por exemplo, com a questão das imagens. A nossa sede de verdade não tem se satisfeito com o ensino por assim dizer "dominical" da Igreja atual. E isto torna-se a base para as "desconversões" a que me refiro.

Agora, notem o ponto: os que se desconvertem, com algumas exceções que, por ora, não me são sabidos, em geral são os que não conhecem suficientemente o ensino católico. E por isso costumava dizer o Cardeal Fulton Sheen: "um católico ignorante será um futuro protestante". Com razão testemunhava um outro padre que as pessoas mais jovens, se dependerem do ensino paroquial comum, nunca sequer conheceram direito o que a Igreja ensina. Isso é muito sério.

No entanto, os que se "reconvertem" à Igreja em geral são pessoas estudiosas, que, na sua sede de coerência e de defesa da verdade, querem atacar a Igreja Católica evidenciando por eles mesmos como ela se corrompeu. E daí, eles iniciam um exame das bases: vão à Bíblia, vão aos Concílios, vão aos primeiros séculos. E o que ocorre? Terminam constatando que a Igreja primitiva é, mesmo, a católica. Frustram sempre a sua expectativa de ver em Constantino o iniciador das profanações e idolatrias. É óbvio que, batendo assim a cara contra o muro, estas pessoas entram numa certa crise. E aqui há duas posições possíveis: ou prevalece o desejo de estar certo e seguro, e a pessoa se afasta destes estudos e se fixa em literatura tendenciosa, ou prevalece o desejo da verdade, e ela leva esse incômodo inicial até o fim. Se a segunda alternativa for o caso, depois da dor do rompimento, o que é natural, se seguirá uma alegria desconhecida, o que é testemunhado por todos os que fazem esse trajeto de volta à casa. Só para exemplificar, vejam o semblante deste sujeito.


Francis Beckwith é Ex-Presidente da Sociedade Teológica Evangélica (ETS). Afirma ele: "Em janeiro, por sugestão de um amigo querido, comecei a ler aos Padres da Igreja assim como alguns trabalhos mais sofisticados sobre a justificação em autores católicos. Comecei a convencer-me que a Igreja primitiva é mais católica que protestante e que a visão católica da justificação, corretamente compreendida, é bíblica e historicamente defensável" Fonte: Bíblia Católica News

Vamos então pensar porque este fato ocorre.

Primeiramente, não existe isso de que cada um tem a sua fé. A Fé não é um sentimento subjetivo, mas um assentimento pessoal a um corpo de verdades. Ora, a verdade somente o é se for correspondente à realidade. Isto significa que entre dois religiosos cujas visões destoam um do outro, não é possível que ambos estejam corretos. Os dois podem estar errados, mas não corretos igualmente. Isso ocorre porque os erros são infinitos. A verdade, ao contrário, pela sua própria natureza, só pode ser uma.

Nenhum artigo curto de blog substitui os estudos pessoais e intensos que devem conduzir as pessoas a uma adesão tão séria. Mas entendemos que, se os pontos abaixo - e os reduzimos a dois, para não nos entendermos demasiado - ao menos forem entendidos, ao final do artigo o leitor estará pelo menos inclinado ao catolicismo ao invés do protestantismo de toda monta. Mas, para que isto se dê, convocamos o leitor a concentrar toda a sua sede de coerência e verdade, a mobilizar toda a sua sinceridade, e a meditar passo a passo com vagar. Reforçamos aqui uma regra importantíssima e que conduzia Santo Tomás de Aquino nos seus estudos pessoais: nunca deixar passar nada sem que tenha sido entendido direito. Pode acontecer também de o leitor julgar ver algum ponto da questão que o texto não contempla. Se isso for o caso, estamos abertos a quaisquer críticas que nos queiram fazer. Comecemos.

O primeiro problema é o seguinte:

A Sola Scriptura. Tem sentido? Não. Expliquemos: o princípio da Sola Scriptura ou Só a Escritura afirma que somente a Bíblia é a fonte da revelação e autoridade concernente à Fé e aos costumes. Cada tema deste daria um artigo inteiro, e já escrevemos outros textos sobre alguns desses pontos isoladamente. No entanto, como temos estudado isso de um modo mais intenso atualmente, julgamos poder dizer agora algo mais aprofundado do que já dissemos. Talvez futuramente dediquemos mais espaço a cada um desses pontos. O que vai agora é somente uma demonstração de que estes princípios carecem de fundamento, e é a visão desse fato o que faz com que os protestantes dados a estes estudos retornem à Igreja.

Falávamos da Sola Scriptura. Ora, a Bíblia é um livro. Logo, ela pressupõe necessariamente os fatos que se narram e aos quais ela é posterior; exige também que haja uma autoridade que narre os fatos de modo fiel; e uma autoridade que, conforme os fatos se distanciem no tempo, ensine o modo correto de entendê-los. 

Outro ponto é que a bíblia narra fatos que não são comprováveis imediatamente, não apenas pelo passado (ou futuro, como nos livros proféticos), mas porque são fatos sobrenaturais. Tais fatos, mais difíceis de se entender, necessitam ainda mais alguém que os interprete. Vemos o episódio do eunuco, no livro dos Atos, que lendo o profeta Isaías, falou ao apóstolo Felipe: "como vou entender se não há quem me explique?". O eunuco não sabia se, no texto do servo sofredor, em Isa 53, o autor falava de si mesmo ou de outro. E foi preciso que uma autoridade lhe desse luz para entender. Aliás, é isso o que significa dizer que "a Fé vem pelo ouvir", e não pelo ler, de São Paulo.

Uma outra dificuldade é que, além de fatos, a Bíblia contém doutrinas e afirmações teóricas absolutamente impossíveis de verificação, ao menos por ora. Some-se a isso a dificuldade intrínseca de certas afirmações, como é reconhecido pelo próprio Pedro, ao referir-se às cartas de Paulo e aos espíritos que, mal interpretando o que ia nelas, caminhavam para a própria ruína (Cf. II Pe 3,15-16). Vejam só: a ruína pode ser resultado de uma compreensão equivocada. Portanto, fica mais que evidente a necessidade de que alguém mostre o modo certo de entender aquilo, pois, assim como as afirmações bíblicas não resultam de interpretações particulares, assim também não são as interpretações particulares, ao costume luterano, que vão dar conta de se harmonizar com a verdade (Cf. II Pe 1,20).

A coisa toda complica ainda mais se notamos que a Bíblia tem livros que são propositadamente criptografados, isto é, escritos de modo pesadamente simbólico para que os não cristãos não entendessem do que se estava falando, como é o caso do Apocalipse, e que Lutero, renegando a autoridade da Igreja e, por isso mesmo, abandonando qualquer referencial para entendê-lo, chamava de "livro inútil".


"(...) quanto a mim, sinto uma aversão a ele, e para mim isso é razão suficiente para rejeitá-lo. ” (Werke Sammtliche, 63, pp 169-170, “Os fatos sobre Lutero,” O’Hare, TAN Books, 1987, p. 203.)


Estes pontos acima podem resumir-se na falta de uma autoridade interpretativa para a Bíblia. Se lermos o livro dos Atos, que conta o início da Tradição, isto é, da vivência da Igreja, veremos que o referencial era SEMPRE o corpo dos Apóstolos. Eles decidiam, eles ensinavam. Ora, conforme a Igreja se estenda pelo mundo, não diminui a necessidade de que seja administrada por uma autoridade, antes ela aumenta, como o testemunhou a própria história. Portanto, não há sentido nenhum afirmar que o ofício dos Apóstolos termina com eles e que, a seguir, a Igreja seguiria angelicamente sem necessidade de autoridades terrenas que detivessem as heresias e garantissem a ortodoxia do ensino. Nem a lógica nem a história endossam esse devaneio.

Um outro problema ainda é que o princípio da Sola Scriptura não está na Bíblia, sendo ele, portanto, um princípio autocontraditório e suicida. Ponhamos isso na forma de um silogismo para que fique bem entendido:

- Só devemos crer no que está na Bíblia;
- A Sola Scriptura não está na Bíblia;
- Logo, o princípio da Sola Scriptura exige que não se dê crédito à Sola Scriptura.

Aceitar este princípio exige que, logo em seguida, ele seja destruído, pelo bem da coerência e da lógica. Manter o princípio da Sola Scriptura vai contra o próprio princípio da Sola Scriptura. Ele é um primor de contradição.

Quando chegamos à compreensão clara e límpida dessa verdade, reconhecemos que ela é arrasadora. Meditando sobre isso, não encontrei nenhuma espécie de alternativa.

Um protestante, porém, que entenda este problema, poderá dizer: "Ok. É de fato um problema. Mas, até dizer que a Igreja Católica é a correta é um salto imenso. É fato que a Igreja primitiva era pura e santa, até chegar o século IV, com o Édito de Milão, onde o Imperador Constantino fez um laço entre cristianismo e paganismo."

Se alguém objeta isso aí - e é o mais comum -, o que devemos fazer? Até antes de estudar o século IV e ver o que de fato aconteceu, devemos pô-lo em contato com os escritos dos séculos I, II e III, os padres apostólicos e os padres apologéticos. Lendo esse pessoal, muitos deles discípulos diretos de João, Pedro - como é o caso de Sto Inácio, bispo de Antioquia e o primeiro a usar o termo "Igreja Católica" mais ou menos no ano 105 dC, e também do bispo Policarpo, da comunidade de Esmirna -, conhecidos de Paulo, Lucas, etc. Podemos dizer que eles são "da turma".

Podemos recomendá-los à leitura desse pessoal e, paralelo a isso, devemos estimular-lhes a procura de quaisquer evidências de fraudes que historiadores especializados possam ter encontrado. Cedo ou tarde, as escamas caem e a luz aparece.

Se alguém empreender com coragem este estudo, ou terá de convencer-se de que a Igreja Católica é a Igreja de Cristo, ou deixará de ter fé pura e simplesmente, ou preferirá a incoerência cômoda e orgulhosa. A Verdade não tem adversários à altura. Ela é como um leão: se for solta, destrói os inimigos facilmente. É como uma pesada pedra que faz em pedaços aquilo sobre o que ela cai. (Cf. Mt 21,44)

Pomos abaixo o nome de alguns dos "Pais da Igreja", dos primeiros séculos, que podem ser consultados:

Padres Apostólicos

- Inácio de Antioquia;
- Policarpo de Esmirna;
- Irineu de Lião;
- Clemente Romano;
- Pastor de Hermas;
- Pápias de Hierápolis

Outro escrito do século I bem conhecido e de autoridade reconhecida:

- Didaché dos Apóstolos;

Um outro documento, datado do Século III, cujo original perdeu-se, restando traduções completas em sírio, copta, árabe, francês, alemão e inglês:

- Didascália dos Apóstolos

Padres Apologetas ou Apologistas - defendem o cristianismo em face ao mundo pagão - Séculos II e III:

- Justino Mártir;
- Quadrato;
- Aristides de Atenas;
- Aristão de Pella;
- Taciano;
- Melitão de Sardes;
- Atenágoras;
- Teófilo de Antioquia;
- Tertuliano;
- Cipriano de Cartago;
- Irineu de Lião;

Todos eles são bem anteriores ao imperador Constantino (séc. IV) e, portanto, são fontes insuspeitas de como pensavam os primeiros cristãos. Bons estudos.
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