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Dois pastores protestantes debatem sobre a Igreja Católica


O relato abaixo trata-se de uma conversa verídica entre o Prof. Scott Hahn, então teólogo presbiteriano e doutor em Bíblia, que estava em vias de se tornar católico por causa dos seus estudos sobre a Escritura, e o Prof. Doutor Gerstner, teólogo calvinista formado em Harvard e de postura anticatólica, última esperança de Scott, de seu amigo Gerry e de sua esposa Kimberly no intuito de dissuadi-lo da sua iminente conversão àquilo que, então, eles chamavam, nas palavras do Prof. Gerstner, "a sinagoga de Satanás". Hoje, dia da instituição do Sacerdócio ordenado e da Santíssima Eucaristia, o blog traz mais esta postagem especial. Boa leitura.

***

A certa altura, perguntou-me [o prof. Gerstner]:

- Scott, que suporte bíblico encontra você para o Papa?

- Doutor Gerstner, o senhor recorda como o Evangelho de Mateus enfatiza o papel de Jesus como filho de David e Rei de Israel, enviado pelo Pai para inaugurar o Reino dos céus? Creio que Mateus 16, 17-19 nos mostra como Jesus estabeleceu esse Reino. Deu a Simão três coisas: primeiro, um novo nome, Pedro (ou Pedra); segundo, o seu compromisso de edificar a sua Igreja sobre Pedro; e, terceiro, as chaves do Reino dos Céus. É este terceiro aspecto que me parece mais interessante.

Quando Jesus fala das "chaves do Reino" está se referindo a um importante texto do Antigo Testamento, Isaías 22, 20-22, onde Ezequias, o herdeiro do trono real de David e rei de Israel nos tempos de Isaías, substitui o seu velho primeiro ministro, Chebna, por um novo, chamado Eliacim. Qualquer pessoa podia dizer qual dos membros do gabinete real era o novo primeiro ministro, pois tinham-lhe sido entregues as chaves do Reino. Ao confiar a Pedro "as chaves do Reino", Jesus estabelece o cargo de primeiro-ministro para administrar a Igreja como o seu Reino na terra. Portanto, as "chaves" são um símbolo da missão e do primado de Pedro, para ser transmitido ao seu sucessor; assim foi sendo transmitido ao longo das épocas.

- É um argumento muito engenhoso, Scott - replicou.

- E como o refutamos nós, os protestantes?

- Bom, não creio tê-lo ouvido antes. Teria que pensar sobre isso um pouco mais. Continua com os outros argumentos.

prossegui então descrevendo como a família da Aliança era o princípio central ou a idéia-chave da fé católica. Explica Maria como nossa Mãe, o Papa como nosso pai, os santos como nossos irmãos e irmãs, e as celebrações e dias de festa como festas de aniversário.

- Doutor Gerstner, tudo isso adquire significado quando se considera a Aliança como o ponto central da Escritura.

Ele escutava atentamente.

- Scott, acho que você está levando longe demais este assunto da Aliança.

- Talvez tenha razão, doutor Gestner, mas estou totalmente convencido de que a Aliança é central em toda a Escritura, tal como ensinaram os grandes protestantes João Calvino e Jonathan Edwards; só que também estou convencido de que a Aliança não é um contrato, como eles pensaram, mas antes um vínculo familiar sagrado entre Deus e o Seu povo. Se estou enganado em alguma destas questões, mostre-me onde, por favor. Poderia salvar a minha carreira.

Ele respondeu:

- Espera até nos encontrarmos com Gerry.

Uma vez chegados ao lugar da reunião, estivemos durante horas e horas a esmiuçar uma grande quantidade de temas, mas sobretudo a questão da justificação. Apresentei a perspectiva católica, segundo a qual a justificação não é apenas uma mera absolvição mas, à luz do Concílio de Trento, uma divina filiação. Durante seis horas, Gerry e eu apresentamos vários pontos de vista católicos; nenhum foi refutado.Colocamos também muitas perguntas que não tiveram uma resposta satisfatória.


Ao terminar, Gerry e eu olhamos um para o outro: ambos estávamos pálidos. Para nós, havia sido um choque. Tínhamos desejado e rezado para que alguém nos livrasse da humilhação de termos de nos converter.

Num momento em que ficamos sozinhos, disse-lhe:

- Gerry, sinto-me atraiçoado pela nossa tradição Reformada. Vim aqui pensando que íamos ser salvos das águas; mas a Igreja Católica não perdeu um único ponto. Os textos do Concílio de Trento foram tomados fora do contexto. Sem se dar conta, o Concílio tem sido mal interpretado em seus cânones, ao desligá-los das definições formuladas nos decretos.

Na volta para casa, falei muito mais com o doutor Gerstner. Pedi-lhe que me mostrasse onde é que a Bíblia ensina a doutrina da sola Scriptura. Mas não me deu um único argumento novo. Em vez disso, colocou-me uma pergunta:

- Scott, se você concorda que agora nós possuímos a Palavra de Deus inspirada e sem erros na Escritura, o que mais pode nos faltar?

Respondi:

- Douor Gerstner, não creio que a questão principal seja saber o que é que precisamos. Mas uma vez que o pergunta, exponho-lhe o meu ponto de vista. Desde a época da Reforma, foram surgindo mais de vinte e cinco mil diferentes confissões protestantes, e os especialistas dizem que na atualidade surgem cinco novas por semana. Cada uma delas afirma seguir o Espírito Santo e o sentido autêntico da Escritura. Deus sabe que devemos precisar de algo mais.

O que eu quero dizer, doutor Gerstner, é que quando os fundadores da nossa Nação nos deram a Constituição, não se contentaram apenas com isso. Imagine o que teríamos hoje se a única coisa que nos tivessem dado fosse um documento, por muito bom que fosse, junto com a recomendação "que o espírito de George Washington guie cada cidadão"? Teríamos a anarquia, que é precisamente o que temos nós, protestantes, no que se refere à unidade da Igreja. Em vez disso, os nossos pais fundadores deram-nos algo mais do que a Constituição; deram-nos um Governo - formado por um Presidente, um Congresso e um Senado - todos eles necessários para aplicar e interpretar a Constituição. E se isso é necessário para governar um país como o nosso, o que é que será necessário para governar uma Igreja que abarca o mundo inteiro?

É por isso, doutor Gerstner, que começo a acreditar que Cristo não nos deixou apenas com um livro e o seu Espírito. Aliás, o Evangelho não diz uma única palavra aos apóstolos a respeito de que deviam escrever; além disso, só menos da metade dele escreveram livros que foram incluídos no Novo Testamento. O que Cristo disse realmente - a Pedro - foi: "Sobre esta pedra edificarei a Minha Igreja... e as portas do inferno não prevalecerão contra ela". Por isso, vejo mais lógico que Jesus nos tenha deixado juntamente com a sua Igreja - composta por um Papa, Bispos e Concílios - tudo o que é necessário para administrar e interpretar a Escritura.

O doutor Gerstner fez uma pausa para pensar.

- Tudo isso é muito interessante, Scott, mas você disse que não acha que esse seja o tema principal. Qual é então para você o tema principal?

- Doutor Gerstner, creio que a questão principal é o que a Bíblia ensina sobre a Palavra de Deus, já que em nenhum lugar reduz a Palavra de Deus apenas à Escritura. Pelo contrário, a Bíblia diz-nos em muitos lugares que a autorizada Palavra de Deus deve buscar-se na Igreja: na sua tradição (2 Tes 2,15; 3,6), assim como na sua pregação e ensino (1Ped 1,25; 2Ped 1,20-21; Mt 18,17). Por isso, penso que a Bíblia apoia o princípio católico de solum verbum Dei, "só a Palavra de Deus", em vez do princípio protestante sola Scriptura, "só a Bíblia".

O doutor Gerstner respondeu insistindo, uma e outra vez, que tanto a Tradição católica, como os Papas e os concílios ecumênicos, todos eles ensinaram coisas contrárias à Escritura.

- Contrárias a que interpretação da Escritura? - perguntei. - Além disso, todos os historiadores da Igreja estão de acordo em que recebemos o Novo Testamento do Concílio de Hipona, no ano 393, e do Concílio de Cartago, no ano 397, e ambos enviaram as suas decisões a Roma, para serem aprovadas pelo Papa. O senhor não acha que do ano 30 ao 393 é demasiado tempo para estarmos sem Novo Testamento? Além disso, havia muitos outros livros que as pessoas de então pensavam que poderiam ser inspirados, como a Epístola de Barnabé, o Pastor de Hermas e os Atos de Paulo. Havia também múltiplos livros do Novo Testamento, como a Segunda Carta de Pedro, a Carta de Judas e o Apocalipse, que alguns consideravam que deviam ser excluídos. Afinal, que decisão seria digna de crédito e definitiva se a Igreja não ensinasse com autoridade infalível?

O doutor Gerstner replicou em tom calmo:

- Os Papas, os bispos e os concílios podem enganar-se e de fato se enganaram. Scott, como é que você pode pensar que Deus tornou Pedro infalível?

Refleti durante um momento.

- Bem doutor Gerstner, tanto protestantes como católicos estão de acordo em que Deus deve ter tornado infalível Pedro pelo menos em duas ocasiões: quando escreveu a Primeira e a Segunda Epístola de Pedro, por exemplo. Ora, se Deus o pode tornar infalível para ensinar com autoridade por escrito, proque é que não podia preservá-lo do erro ao ensinar com autoridade em pessoa? Do mesmo modo, se Deus pode fazer isso com Pedro e com os outros apóstolos que escreveram a Escritura, por que não podia fazer o mesmo com os seus sucessores, especialmente ao prever a anarquia a que se chegaria se não o fizesse? Por outro lado, como podemos estar seguros de que os vinte e sete livros do Novo Testamento são em si mesmos a infalível Palavra de Deus se foram Papas falíveis e concílios falíveis que nos deram essa lista?

Nunca esquecerei a sua resposta:

- Scott, isso significa simplesmente que o que podemos ter é uma coleção falível de documentos infalíveis.

- Isso é realmente o melhor que o cristianismo protestante histórico consegue proporcionar?

- Sim, Scott, tudo o que podemos fazer são juízos prováveis baseados na evidência histórica. Não temos nenhuma outra autoridade infalível além da Escritura.

- Mas, doutor Gerstner, como eu posso saber que é realmente a Palavra de Deus infalível o que estou lendo quando abro Mateus ou Romanos ou Gálatas?

- Como te disse, Scott, tudo o que temos é uma coleção falível de documentos infalíveis.

Senti-me muito insatisfeito com as suas respostas, embora soubesse que apresentava com toda a honestidade as teses protestantes. Fiquei ali sentado, meditando no que ele dissera sobre a última fonte da autoridade, e sobre a inconsistência lógica da posição protestante.

A minha única resposta foi:

- Bom, se as coisas são assim, doutor Gerstner, acho que devemos ter a Bíblia e a Igreja. Ou as duas ou nenhuma!

HAHN, Scott. Todos os caminhos levam a Roma. São Paulo: Cléofas, 2013. p.97-103.
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Um comentário:

  1. Muito obrigado, pela leitura. É sensacional ver a simplicidade com que se destrói a fé protestante. Não é preciso muito. E Scott Hahn é sempre bem didático.

    ICXC NIKA.

    Pedro Erik

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Fique à vontade para comentar. Mas, se for criticar, atenha-se aos argumentos. Pax.

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